Eu posso sentir

Faz uma semana que minha avó faleceu, passei a noite toda com ela, em sonho é claro.
Parece que foi tão rápido, tipo, eu acabara de dormir e já estava na hora de acordar e me levantar, tão estranho...
Eu ainda estou sentindo todas as sensações que tive no sonho, a umidade do lugar, o frio que fazia lá e, não sei como, mas eu sabia o que precisava fazer.
Eu sabia que estava dormindo, que estava sonhando e no próprio sonho eu dizia pra eu mesma " Nossa! Eu to sonhando e consigo sentir tudo aqui como se fosse real!"
Era um lugar escuro, frio e úmido, me lembrava aqueles container de navio, como se fosse um longo corredor de container e bem lá longe na outra ponta, tinha uma espécie de luz, tipo uma fumaça, uma nuvem talvez, não tenho certeza porque de onde eu estava era bem longe, mas eu conseguia ver a claridade que vinha de lá.
E eu não sei como, mas eu sabia que minha avó tinha que ir pra lá.
Minha vó me disse que estava sentindo muito frio e não queria ficar lá, queria vir comigo, mas eu disse pra ela que não podia vir comigo porque não fazia mais parte deste mundo e apontei na direção daquela luz e disse:
__A senhora tem que seguir a luz vó, tem que ir pra lá.
Ela foi tão boazinha, só me disse que tudo bem então, tá bom.
E com um sorriso nos lábios, me deu um abraço bem apertado e depois foi caminhando em direção da luz.

Ela foi andando devagarzinho e eu fiquei ali parada olhando ela que ia se distanciando e ficando cada vez mais perto daquela luz.
E tem um detalhe, tanto eu como minha vó, a gente não mexia os lábios para falar, é como se a gente conversasse por pensamento, eu falava e ouvia tudo, mas não havia movimento nos lábios, nem nos meus e nem nos da minha avó.
Então, eu acordei com uma sensação de paz e tranquilidade sem igual, também ainda sentia o frio e umidade daquele lugar.
Estranho que eu parecia estar acordada o tempo todo, como se eu estivesse nos dois mundos ao mesmo tempo.
Eu estava consciente todo o tempo que eu estava deitada na minha cama dormindo ao mesmo tempo que estava lá com minha avó.
Eu nunca me esquecerei da alegria e gratidão dela, mesmo internada naquele hospital, por causa de uma mexerica que deram no almoço, ela ficou tão feliz!
Ela partiu alegre pelo simples fato de chupar uma mexerica.
Ela era meio atrapalhada, aos olhos da sociedade até um estorvo, mas era uma pessoa que não se queixava de nada, tudo estava bom pra ela.
E só pra constar, eu não estou dizendo que ela era boazinha só porque já faleceu, eu realmente observo muito as pessoas e consigo ver o lado bom delas.
Penso que isto é um exercício que devemos praticar todos os dias, olhar e perceber o outro na sua melhor versão mesmo nos dias mais conflituosos.

Essa história é verídica e eu deixo aqui registrado no meu blog para sempre me lembrar dela na sua simplicidade de ser e de viver aqui enquanto deu.
Descanse em paz minha vó, que Deus à tenha num bom lugar, amém.

Márcia Fukuda Taketa

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